Excelente resenha da Ludmila, ela conta um pouco sobre a estrutura da obra, a época, a história, dessa forma situa o leitor no tempo e espaço, además de colocar as suas impressões pessoais, veja:
RESENHA – DUBLINENSES, DE JAMES JOYCE, POR LUDMILA AGUIAR
Os 15 contos presentes em Dublinenses começaram a ser escritos no início do século XX tendo sofrido resistência por parte dos editores, seja porque era centrado na Irlanda, o que não despertaria interesse, seja porque toca em assuntos demasiado polêmicos. E por isto o livro foi publicado apenas no ano de 1914[1].
Como o próprio título sugere, Joyce descreve a partir de uma perspectiva da vida íntima das pessoas de Dublin. O que mais me interessou foi que através de uma vasta gama de personagens o autor faz um retrato da sociedade dublinense a partir da análise de algumas características da cultura irlandesa, lançando mão de assuntos como religião, arte, política, diferentes classes sociais, conflito de gerações, vida e a morte. Tais questões revelam uma atmosfera de tensão moral e afetiva e certa visão do autor de amor e repulsa a Dublin. Dentro dos assuntos abordados o que mais me chamou a atenção foi à influência da religião nesta sociedade, como formadora da moral e do caráter, e ao mesmo tempo a decadência desta em analogia ao colapso que o padre sofre no conto, As irmãs, sugerindo que a religião não teria o mesmo efeito nos dublinenses no novo século que desponta mais liberal. Outro assunto muito presente é o efeito do abuso do álcool em toda a cidade e os efeitos deste sobre a sociedade, como caótica e desordenada. O fato de citar nomes de ruas e bares não me despertou tanta identificação, talvez para quem conheça a cidade fica mais fácil visualizar a cena narrada. Mas pode ser que em outros leitores que não conheçam Dublin, a sensação despertada seja justamente a de se sentir um pouco mais próximo da cidade através dos aspectos físicos narrados. Um recurso que me chamou atenção é o fato dos contos começarem menores e irem aumentando ao longo do livro, algo relacionado à ordem cronológica que os contos enfocam: começam pela infância, passando pela adolescência, a vida adulta e a velhice. No geral, eu achei a linguagem dos contos muito clara, de fácil leitura. O que no começo me causou certo estranhamento foi certa forma brusca em que alguns contos terminam. Mas passado um tempo de leitura percebi que o proposito em algumas histórias era muito mais desenvolver os sentimentos, comportamentos e pensamentos complexos dos personagens do que uma preocupação em desenvolver uma narrativa complexa. Achei bem sutil e interessante, porque apesar de algumas histórias não ter um final muito claro, permite ao leitor desenvolver uma análise.
Para mim que tenho interesse de ler Ulisses e nunca tinha lido nada de Joyce, o livro serviu como uma forma de se familiarizar com as características da escrita do autor. Acho que para quem nunca leu nada dele, Dublinenses é uma porta de entrada.
13 respostas para “Clube de Leitura: “Dublinenses”, de James Joyce por Ludmila Aguiar”
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Gostei muito de sua resenha Ludmila. Tive as mesmas impressões. E imprecisões também que aliás, como tenho aprendido à muitas penas, é o essencial.
Quanto aos nomes de lugares eu não sabia se me identificava ou se considerava um fato sem importância por não saber se são nomes reais ou fictícios. Aparentam nomes reais, na minha opinião.
Muito bem, adorei a sua resenha.
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Republicou isso em Borboletanoespelho.
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Gostei tbem da sua resenha Ludimila. Qto aos nomes dos lugares sao reais sim, Como eu estou aqui ha 5 anos, foi como se eu conhecesse os personagens, ainda sao muito religiosos e os pubs sao lotados sempre. E para mim as ruas de Dublin sao cinzas e nao marrons como disse o livro, alias aqui tdo parece cinza por causa do clima frio, rsrsrs. Quanto as visitas dos amigos e parentes sao bem parecidas as do livro, veem ficam horas conversando e tomando cha com leite e bolachas. rsrsrs ops e algumas vezes wisque tbem. Foi bom ter lido o livro. Obrigada Fernanda pelo incentivo.
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Legal saber que a sua experiência pessoal coincide com as histórias de Joyce. Um abração!
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Muito interessante, Ludmila, suas observações sobre Dublinenses. Concordo em tudo com você.
Adoro a forma de ele terminar bruscamente os contos. Sinto um frio na espinha diante de tantas soluções possíveis.
Entretanto prepare-se: Ao ler Ulisses você vai descobrir que em cada capítulo ele usa um tipo diferente de linguagem e estilo, dependendo do personagem e da situação. É um romance único, mas já estou em minha terceira leitura e ainda acho tanta novidade que não tinha percebido… Entre de cabeça e vá devagar.
Obrigada por compartilhar a resenha!
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Seu comentário me deixou mais curiosa ainda para explorar Ulisses,está na minha lista de metas 🙂
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Gostei muito da resenha. Infelizmente (e vergonhosamente para mim), confesso que comecei a ler Dublinenses para participar do clube de leitura e, sufocada por outras leituras obrigatórias/urgentes, ainda não terminei de ler…
Abraços
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Não tem problema, haverá outras oportunidades!
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Obrigada gente pela receptividade a minha resenha. Estou gostando muito de participar do clube da leitura 🙂
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E obrigada a você, Ludmila, por participar! Sua resenha contribuiu bastante, nos trouxe reflexões, além de despertar a vontade de ler Joyce. Beijos!
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Republicou isso em Livros com Pipocae comentado:
Excelente post do blog “Falando em leitura…”
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[…] nossas resenhas aqui (Gerson de Almeida), aqui (Fernanda Sampaio), aqui (Ludmila Aguiar), aqui (Lotthar Vlozian) e aqui (Ronaldo […]
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