O escritor e professor Gonçalves Dias nasceu em 1823 na cidade de Caxias (Maranhão) e faleceu dentro do navio Ville de Boulogne nas costas do Maranhão em 1864. Ele voltava da Europa muito doente, mas não morreu disso, o navio naufragou já pertinho de casa. Filho de um português e uma brasileira cafusa (mistura de negro e índio), por isso se dizia descendente das três raças que formaram a etnia brasileira. Estudou Leis em Coimbra, inspirou- se em Garret e Herculano (escritores portugueses), notórias influências em sua escrita. Voltou ao Brasil em 1845 e foi nomeado professor de Latim e História do Brasil no Colégio Pedro II. Quem terão sido os alunos de Gonçalves Dias?
Sua obra: Primeiros cantos (1846), Segundos cantos e sextilhas de Frei Antão (1848) e Últimos cantos (1851), todos com temática romântica (natureza-pátria-religião) e o amor impossível, de caráter autobiográfico, já que ele pediu em casamento uma jovem chamada Ana Amélia, mas ela recusou, pois sua família foi contra. A causa? Preconceito de cor. Gonçalves esteve no Amazonas e dessa viagem escreveu o livro Brasil e Oceânia (1852) e o Dicionário da Língua Tupi (1858). Deixou inacabado o poema épico Os Timbiras.*
Foi Gonçalves que escreveu um dos poemas mais bonitos da literatura brasileira. Em Canção do Exílio está contido todo o sentimento do imigrante longe da sua terra natal, a saudade, a melancolia, a distância que transformou o Brasil numa terra idílica:
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
De Primeiros cantos (1847)
Coitado, né? Voltar ele voltou, pena que morreu no mar, não deu tempo de ouvir o canto do sabiá outra vez.
Referência bibliográfica: BOSI, Alfredo, História concisa da literatura brasileira, 36ª edição, Cultrix, SP, 1994.