“Os vinhos são como os homens: com o tempo, os maus azedam e os bons apuram.” Cícero
Eu sou praticamente leiga em vinhos, sou do tipo que compra pelo rótulo, pela garrafa (os vinhos que têm o fundo côncavo são os melhores, vinhos com denominação de origem certificada, fora os selos que garantem a qualidade), pelo teor alcóolico (procuro sempre os mais baixos) e também pelo nome. E comprando pelo nome, comecei a observar que existem rótulos com títulos bem interessantes, inclusive com poemas:
Os vinhos Albariños são da Galícia, e os galegos, além do espanhol, falam também o galego- português. Virando a garrafa, olha a surpresa, um poema lírico trovadoresco de Martín Códax, século XIII:
Fácil de entender, não? Muito parecido com o português.
Martin Códax foi um trovador galego, escreveu cantigas de amigo no tempo em que as poesias eram feitas para serem cantadas. Códax provavelmente era de Vigo. Ele nos deixou sete cantigas encontradas, por acaso, na biblioteca pessoal de Paulo Vindel em 1914. O pergaminho estava dentro de um livro do filósofo Cícero. Pouco se sabe quem foi o trovador, mas sua obra lírica galaico- portuguesa é de grande valor histórico. No pergaminho de Codáx, além dos poemas, também estão as partituras musicais. As mesmas notas estão reproduzidas na rolha do vinho Códax:
Abaixo uma cantiga de amigo, cantada por um grupo galego que leva o mesmo nome do trovador:
É ou não é um vinho com poesia? Agora falta provar.
Alma do vinho assim cantava na garrafa:
“Homem, ó deserdado amigo, eu te compus,
Nesta prisão de vidro e lacre em que se abafas,
Um cântico em que só há fraternidade e luz!”
(Charles Beaudelaire, do poema L Âme du Vin)
8 respostas para “Vinho com poesia”
Consumam o vinho com parcimônia, já a poesia…
adorei o post.
abraços paraibanos.
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Isso mesmo, amigo, “se emborrachar” só de poesia! :))
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Oi Fernanda!
Assista agora no Teatro Municipal do Rio de Janeiro
o Grupo Corpo,com o ballet: “Sem Mim” Canções de Martin Codax.
bj
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Que bacana, Elias! Códax no Rio! Beijos!
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A única coisa que sei dizer sobre vinhos é que eu prefiro os secos e aprendi que os melhores são “cabernet sauvignon”, mas não sei explicar por quê. rs
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Quisera saber de toda tua complexidade
ser uma pequena cidade no Mediterrâneo
e te contemplar do palato até os rins.
Curar toda mediocridade
a cada gole desse elixir
que me faz rever amigos
como se estivessem aqui.
E cada vez que viro a taça
sou mais amigo de Baco
sou todos os vinhedos…
E nesse hotel barato
torno-me cavaleiro lunar
brindo com minha sombra
que me parece acompanhar.
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Obrigada pela visita, e principalmente, pela poesia!
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[…] Fernanda Jimenez, no Falando em Literatura […]
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